O Cavalheiro e a Vagabunda - Excerto número um
"A multidão em silêncio esperava com atenção. O grande solo da protagonista começa-se a ouvir. Em tom apoteótico queixa-se do seu 'amante' que a visita ocasionalmente no seu antro de paixões para nunca a livrar daquela vida de animação desmesurada. Ele, um típico gentleman do séc. XIX leva uma vida dupla, e embora o seu amor pela meretriz seja indúbitável, sente a dificuldade normal de assumir uma relação desta natureza. Eu que assistia entusiasticamente ao espetáculo dou por mim de repente a olhar para uma plateia presa a todas as notas que estou a cantar. Justificando-me perante a rapariga injustiçada, entrego uma actuação tocante e poderosa. Acabamos o musical num dueto fenomenal em que tudo, como sempre, acaba bem. O espetáculo acabou, o La Féria agradece orgulhoso do seu trabalho e juro que vi a Simone de Oliveira a aplaudir de pé! Estou surpreendido, porque sei que os críticos não vão dizer assim tão bem desta estreia. Terá sido de nível mediano... Já fora do palco os cumprimentos são aos molhos, a minha família orgulhosa abraça-me e a minha afilhada de três anos pede-me um beijo! (Devo ter sido espantoso porque é sempre o padrinho que tem de pedir-lhe o beijo!) E ela? Onde está a estrela do musical? Dizem-me que saiu à pressa, foi apanhar o comboio para casa. Despeço-me de todos rapidamente e saio do Politeama na esperança de a alcançar..."
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