11.14.2004

o Capítulo Piegas

Foi na quinta-feira, que eu, de fatinho bonito e sapato a condizer, fiz o mesmo percurso que era o de sempre. A linha de Sintra em todo o seu esplendor só pode ser observada de dentro pra fora, de dentro de um comboio, para fora dali. Imaginava-me então diferente, como se tivesse crescido entre os carris, e tivesse andado com aquelas pedras no bolso. Como se os meus berlindes lá estivessem perdidos e aquelas tábuas de madeira fossem onde eu jogava à "macaca". Ali e agora, já feito um homenzinho, era o momento em que a lagarta passava a borboleta. E a linha de Sintra que me tinha feito crescer, no meio de multidões apertadas, jovens desviados, bêbados malcheirosos, adolescentes depravadas, mórmons atarantados, músicos saltimbancos, velhinhas rezadoras, e tantas paixões de olhar... agora, como um casulo desfeito, olhava-me ela a mim, e eu sentia a aprovação de uma mãe pobre mas carinhosa que, apesar das dificuldades, tinha conseguido fazer parte do meu crescimento, (embora eu ainda não consiga determinar ao certo as consequências disso). O que importava era que aquela linha de Sintra tinha finalmente deixado de ser uma linha no horizonte. Eu tinha ultrapassado a estação terminal.
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